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Coordenação de José da Luz Saramago
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Para todos os conterrâneos, em especial para os que vivem e labutam fora do seu torrão natal.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

NOSSA TERRA, NOSSA GENTE

Memórias do Zé Caixeiro

A segunda Grande Guerra mundial incendiava a Europa. Os noticiários da BBC eram sofregamente ouvidos na única telefonia da aldeia, instalada na loja no sr. João da Guilhermina. Os mortos contavam-se aos milhões, os refugiados não tinham conto, a fome grassava por todo o lado.

Portugal escapava à guerra, talvez porque tivesse de produzir alimentos para os beligerantes. Salazar, orgulhoso, propagandeava que esses alimentos eram sobras de Portugal. Entretantos os portugueses para apanharem um naco de pão passavam noites inteiras nas bichas.

Na loja, onde se vendia de tudo um pouco, dos pregos às albardas, do cloreto à massa de meados, Zé Caixeiro, um trinca-espinhas de 11 anos de idade, trocava o arroz, o açúcar, o sabão, por senhas de racionamento e assentava no rol as compras que só seriam pagas no sábado seguinte (quando eram), depois da conta somada pelo patrão, que quase sempre se enganava a seu favor.

À noite a loja era o ponto de encontro dos trabalhadores que comentavam a guerra ou o futebol. A Alemanha e os Aliados, o Sporting e o Benfica dividiam os homens. À luz do gasómetro liam-se recortes de jornais que avolumaram a discussão.

Não havia horário de trabalho nem dia de descanso. A loja só encerrava quando o último freguês partisse. Era aí que acabava cada dia de trabalho para logo recomeçar o outro pelas 5 da manhã. Não para aviar fregueses (naquele tempo as profissões eram polivalentes) mas para, depois de acender a lanterna, aparelhar a mula e a burra com cangalhas o Zé Caixeiro ir à fonte do vale cinco, seis, sete, as vezes necessárias até encher os depósitos de água precisa para a lida da casa do patrão, onde as pessoas e os animais eram mais que muitos.

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