************************************************

- NOTÍCIAS, COMENTÁRIOS, HISTÓRIA e ESTÓRIAS DA ALDEIA-

************************************************

Coordenação de José da Luz Saramago
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Para todos os conterrâneos, em especial para os que vivem e labutam fora do seu torrão natal.

sábado, 11 de setembro de 2010

nossa terra nossa gente

                                                        AS SORTES
"Ó Manel, já lá está o edital! Vamos às sortes no dia 15!..."
"Atão, temos que falar aos tocadores..."
E, correndo, de contentes, foram avisar o Joaquim, o António, o Zé e os outros rapazes que completavam 20 primaveras naquele ano de 1944. Nessa altura, não se falava de outra coisa.
As horas e os dias pareciam demasiado lentas àqueles mancebos, ansiosos de saber se iriam ter a honra de envergar a farda militar e livrar-se do trabalho do campo, de sol a sol, ou das 8 horas a puxar coiros na fábrica.
Tudo andava numa fôna: Ele era o alfaiate que, para ter os fatos prontos, trabalhava noite e dia, ele eram as reuniões para os preparativos da festa, que havia de ser rija! O alugar a sala para o baile, comprar os foguetes, combinar o passeio da festa... enfim, um rôr de coisas tradicionais da ida às sortes. Também as raparigas não pensavam noutra coisa, iriam estrear um novo vestidinho, mesmo que de chita fôsse...
Finalmente, chegou o dia tão esperado: Logo pelo sol-fora já a música do banjo do João Loureiro, da viola do Raul e do pífaro do Gaíto rompia a manhã, alegrando as gentes e levando à  sua frente os garbosos rapazes que daqui a pouco estariam em Alcanena, na Câmara, frente à  praça, para serem inspeccionados.
De regresso à Louriceira, uns de fitinha verde ao peito, tristes por terem ficado livres ou amarela por terem de esperar para o ano seguinte (os esperados). Os restantes, de fita vermelha, felizes por ter a honra de envergar a farda militar. Uma volta à aldeia, sempre acompanhados pelo conjunto musical, parando em todas as tabernas, provando a pinga. À noite, no baile, na casa do ti Mateus, já não se vislumbrava a tristeza dos que tinham ficado livres ou esperados. O vinho tinha-lhes dado força para pularem e dançarem toda a noite, até acabar o carborêto que dava luz ao gasómetro.

Sem comentários:

Enviar um comentário