AS VINDIMAS
Depois das ceifas, escasseava o trabalho rural e os nossos rapazes e raparigas, ansiosos, lá iam para os campos de Almeirim, contratados pelos grandes vinhateiros da região.
Um grande barracão aguardava os nossos jovens que nêle guardavam os haveres, dormiam, descansavam e cantarolavam as cantigas de sempre:
Ó amendoeira/ qué da tua rama?/ por causa de ti/ anda meu amor em fama.
Se anda em fama/ deixá-lo andar/ em águas de rosas/ me hei-de lavar.
Me hei-de lavar/ ó verde limão/ cantar é que é lindo/ chorar é que não.
A vindima era dura, de sol a sol. Uma fila de 30 a 40 jovens de cesta no braço, colhia as uvas que depois eram despejas em grandes cestos que homens fortes colocavam à rectaguarda do eito para, depois de cheios, os acarretarem para as dornas, em cima de tractores, de carroças e de carros de bois que, em fila, as transportavam para os grandes lagares, lá longe, junto à estrada alcatroada.
Atrás dos vindimadores seguia, atento, o capataz para se certificar do desempenho do pessoal que, às suas escondidas, escolhiam os melhores bagos para a boca, o que fazia com que muitos jovens não tivessem apetite ao almoço, quase sempre de batatas cozidas em caldeiras penduradas nos ferros espetados, a que davam o nome de "burras", aquecidas por grandes fogueiras de toros de lenha.
Voltando ao trabalho, mais para passar o tempo do que por alegria, as cachopas ensaiavam as modas dos bailes na Louriceira:
A cobra na verde relva/ foge que desaparece/quem dá falas aos rapazes/muitos castigos merece.
O pedreiro cheira a cal/ O carpinteiro à madeira/ Cada qual com seu ofício/ Eu também sou lavadeira.
Cerca de um mês depois, alegres, com uns cobres amealhados para gastar na feira de Pernes, chegavam à nossa terra onde eram esperados por todos, com muita alegria.
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