TEJO QUE LEVAS AS ÁGUAS
Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar.
Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores.
Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar a verdade
das bocas amordaçadas.
Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro.
Lava palácios, vivendas,
casebres, bairros de lata
leva negócios e rendas
que a uns farta, a outros mata.
Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar.
Manuel da Fonseca
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