TROVA DO VENTO QUE PASSA
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
e o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos, deixam mágoas.
Levam sonhos, deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
porque vai d'olhos no chão,
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.
(...) Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
(...) Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não!
Manuel Alegre
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