À VOLTA DO LAGAR
Centenas de sacas de azeitonas acabadas de amontoar no largo do lagar iluminado por uma potente lâmpada cercada de mosquitos naquela noite menos chuvosa de outubro.
Era ali o ponto de encontro dos louriceirenses, talvez por ser o único local da aldeia que dispunha de luz elétrica, graças ao motor a vapor que fazia mover tôda a geringonça do lagar.
O rapazio, em gritaria,jogava o rabo de porco (uma brincadeira habitual). Os homens discutiam a guerra entre os alemães e os aliados e o futebol entre o Benfica e o Sporting.
Dentro do lagar os mais idosos juntavam-se em redor da fornalha, torrando bolotas que comiam com figos secos, enquanto se entretinham a ver rodar as mós que esmagavam a azeitona e os lagareiros aterefados enchendo as ceiras de massa que havia de ser espremida na prensa para separar o bagaço, a albufeira e o azeite.
Na noite fria e escura luziam estrelas por entre nuvens grossas que encobriam o luar e um dos lagareiros, com um funil de largas dimensões calcorreava as ruas esburacadas, por entre pedras e estrumeiras, apregoando os nomes dos donos das moeduras acabadas de fazer.
Findo o serão passado em volta do lagar, os homens regressavam a casa onde as mulheres se entretinham na escolha das azeitonas que, depois de separadas da rama eram selecionadas para a conserva.
José da Luz Saramago in Memórias da Minha Infância - 1945
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Hoje, tudo mudou. Os lagares a vapor foram substiuídos por um moderno que produz azeite para toda a região e de melhor qualidade. Luisoliva, de seu nome, distribui para todo o país o AZEITE GALEGO.
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