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Coordenação de José da Luz Saramago
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Para todos os conterrâneos, em especial para os que vivem e labutam fora do seu torrão natal.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

nossa terra nossa gente

                             A VIDA E MORTE DE ZÉ DO NACO (continuação)
                                       REGRESSO À LOURICEIRA


Muitos abraços e até lágrimas comoveram o casal. Familiares e população contentes do seu regresso, providenciaram para que nada faltasse ao casal Naco. Estes sentiam-se mais importantes, mais confiantes na vida e isso contribuiu para se fixarem em definitivo, até porque o senhor mais importante da terra, o tal do automóvel de corrida, lhe fez oferta de trabalho.
Zé do Naco tinha bronquite asmática e o trabalho duro do campo não lhe era favorável pelo que seu patrão o transferiu para para a azenha, fazendo dele moleiro. Agora num local ermo, distante da aldeia, mas tinha-se habituado à solidão nos montados de Sobreira Formosa. Aqui viveu, igualmente sozinho, porque a sua Maria, agora chamada de Maria Naca, se radicou na povoação mas indo diariamente levar-lhe as refeições e o seu sorriso, o seu carinho. Nenhum mimo passava por suas mãos que não fosse repartido com o seu homem que ali estava dia e noite agarrado às mós e aos sacos de trigo e de farinha.
Zé do Naco, para melhor passar os dias e as noites, os verões e os invernos, inventava estórias que a si próprio contava. Sonhava, ainda, com dias melhores. Contava pelos dedos os domingos de descanso que tinha tido nos seus 50 anos de trabalho. Cismava nos amigos e inimigos que tinha tido na vida. Inimigos, não!  Era coisa que não tinha. - "Ah, é verdade, um dia dei uma malha de porrada num gajo... Mas já lá vão quase 50 anos e ele terá esquecido. Até porque está lá prós lados de Lisboa e nunca mais lhe pus a vista em cima. Não há-de ser este que se orgulha de ser meu inimigo".
Vivia , pois, de consciência tranquila. Em paz, amigo de toda a gente.
Vivia...
Mas numa tarde em que Maria Naca foi para levar o jantar e os habituais carinhos ao seu "Zéi", encontrou-o morto, feito em pedaços espalhados pelo chão, no meio de quatro paredes pintadas de sangue. Tinham-no matado com requintes de malvadez.
Quem teria sido? E porquê, senão lhe conheciam inimigos? Porquê aquela selvajaria? Seria alguém da Sobreira? Mas as gentes daquela terra garantiam que era estimado por todos. Na Louriceira, também.
Interrogações que permaneceram vinte anos. A Judiciária nunca encontrou qualquer pista. Mas eis que o tal que sofreu a "malha de porrada" entrou em agonia e contou à sua mulher o seu pesadelo.
Guilherme, um pastor que no dia do crime estava por perto, confirma o assassinato: "Aquele maroto, encontrou-me ali perto e disse-me que se eu contasse a alguém, me faria o mesmo".
E, de facto, o medroso do Guilherme guardou o segredo que na altura revelou...
Tarde de mais...

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