MÀRINHO, QUEM SABE DE TI?
Na escola era um bom aluno. Sempre muito bem atilado, menino de sua avó, tratado por ela com desvelo, substituindo os pais de quem não sabia o paradeiro.
Nada faltava ao Màrinho. Bem vestido, bem calçado, dono da melhor bola de couro, fazia inveja aos outros putos.
Cresceu com a bola nos pés e a Louriceira conheceu naqueles idos anos 50 a melhor equipa de futebol de sempre. Zé Rui, Sató, Zé dos Santos, Parreira, Màrinho e outros, arrancavam em cada domingo uma taça, um troféu ou apenas uma simples vitória.
Màrinho vivia apenas para isto. Sua avó sempre pensou que afinal, sendo ele um craque da bola, poderia arranjar um bom emprego em Lisboa.
No entanto, nem a sua 4ª classe nem as idas a treinos de captação de grandes clubes chegaram para aquela ambição.
Chegada a idade da tropa, o Regimento de Caçadores atira-o para a primeira linha de combate em Angola.
Anos depois, regressa à terra, irreconhecível, doente, mentalmente destroçado, correndo sem rumo, de dia e de noite as ruas da aldeia.
Sem apoio, porque sua avó falecera entretanto, sem família ou não sabendo dela, o ex-craque desapareceu. Constara que vivia deambolando por Lisboa.
Muitos anos depois aparece na Louriceira meio descalço, meio despido, cara escondida atrás de uma barba suja, de saco às costas, amparado a um pau. logo que foi reconhecido desapareceu.
Consta -se que é, ou terá sido, um dos milhares de sem-abrigo que vegetam por Lisboa.
De facto, necessitava de, logo que regressou da guerra, ser internado e recuperado. O Estado, que ele serviu, serviu-se dele e abandonou-o.
Hoje, que tanto se fala de solidariedade, haverá por aí alguma instituição que cuide dele? Se é que Mário Grilo ainda é vivo...
Sem comentários:
Enviar um comentário