************************************************

- NOTÍCIAS, COMENTÁRIOS, HISTÓRIA e ESTÓRIAS DA ALDEIA-

************************************************

Coordenação de José da Luz Saramago
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Para todos os conterrâneos, em especial para os que vivem e labutam fora do seu torrão natal.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

NOSSA TERRA NOSSA GENTE

                                        PÃO NOSSO
Chegou o sábado.
No lombo do burro, ti Zé Lourenço carrega a talega de trigo da sua lavra.
Já na azenha, Acácio olha o cereal e agarra um punhado que deixa escorregar. Pesa-o e em troca dá ao ti Zé Lourenço menos 2 quilos de farinha. É para pagamento da maquia.
Enquanto isto, os rodízios rolam sob o peso da água que corre Alviela abaixo e transmitem força às mós que, num rom-rom, moem o trigo.
Ti Zé Lourenço, mal chega ao Casalinho descarrega a farinha e vai à fazenda buscar aroeiras e cavacos secos que hão-de engrossar o rolheiro.
Ti Perpétua varre o pátio sujo das galinhas e faz os preparativos para acender o forno. Depois, despeja a farinha num enorme alguidar de barro vidrado onde mistura a água o sal e uma porção de massa azeda que havia guardado na semana anterior (o fermento). " Pai, Filho, Espírito Santo", balbuciou ti Perpétua, fazendo o sinal da cruz. Dá a volta ao preparado e, durante uma boa meia hora, cálca-o com as mãos em punho, em gestos ritmados, com a força que lhe vem da alma, misturando de vez em quando água morna coada em sal por um paninho branco.
O saber, feito de experiência, diz-lhe que a massa está em condições, depois de se certificar que está suficientemente fofa, dá lhe quatro voltas enquanto reza "Deus te acrescente e às almas do céu p'ra sempre. Amassei, fiz o que pude, Deus te ponha o que não soube".
A massa fica a levedar durante cerca de uma hora, muito abafada com cobertores por cima do bragal..
Ti zé Lourenço acende o forno e quando a abóbada já está branca é sinal de que o forno está suficientemente quente. Com um rodo de cabo comprido espalha as brasas e, daí a pouco retira-as com um varredouro feito de aroeiras. Seguidamente, com um pano húmido, atado num pau, limpa o lar. Uma pá comprida leva a massa ao forno e passada meia hora tira o pão quente que há-de chegar para toda a semana.
Os rapazes saltam de roda da mãe e gritam à espera da merendeira.
"É o pão nosso".

1 comentário:

  1. Excelente narrativa do modo como as pessôas viviam nas aldeias em tempos de outrora.
    Era assim a vida das gentes...
    Parabéns.

    ResponderEliminar