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Coordenação de José da Luz Saramago
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Para todos os conterrâneos, em especial para os que vivem e labutam fora do seu torrão natal.

quarta-feira, 2 de março de 2011

NOSSA TERRA NOSSA GENTE

              CARNAVAL DOS ANOS 40


Carnaval português, o das cègadas, dos trapalhões mascarados que enfarinhavam quem por perto se chegasse; dos entronchados que, brincando, pregavam partidas aos mais desprevenidos. Carnaval dos confetes, das fitas, das caraças feitas de cartão, das salas de baile enfeitadas.
De sábado gordo a 4ª feira de cinzas era um pandemónio!
Deitar os entrudos, na 2ª feira gorda, constituía o quadro mais hilariante e, por isso, mais esperado da aldeia.
Ti António Francisco recolhia durante todo o ano os lapsos dos conterrâneos de quem se sabia ter tido uma atitude anedótica, uma farsa involuntária e, naquela noite, percorria as ruas da Louriceira, levando atrás de si meia população arrastada pela graça natural desta figura popular:
-" Estás a pé ou a cavalo?" gritava ti António Francisco no seu altifalante (um funil de grandes dimensões) ao primeiro visado da noite. "Vem à janela para ouvires uma gaitada! Berra a música, rapaziada!" E as tampas das panelas, os latões e os penicos levados pelo rapazio, qual orquestra afinada, clamavam pelo farsante que, defronte da multidão, era julgado sem poder desculpar-se: "Com que então, levantaste-te, ainda de noite, para ordenhares a cabra e, só depois de muito espremeres, sem resultado, é que deste conta de que não era a cabra, era o bode!... Tens direito a uma gaitada! Berra a música rapaziada!"
E, assim, de casa em casa, de gargalhada em gargalhada, se esgotava a noite de 2ª feira gorda, brincando com os "descuidos" de cada um.
É certo que a alegria não matava a fome... mas matava a tristeza!

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